ESCATOLOGIA - parte 01
O centro da vida do Cristão, gira em torno de Nosso Senhor Jesus Cristo. Passamos a nossa vida inteira, meditando os mistérios de Cristo, a sua Encarnação, a sua Paixão, Morte e Ressureição... e um dos mistérios que acabamos não meditando muito, é o mistério da sua segunda vinda.
Por mais que rezamos no Credo ‘creio na comunhão dos santos, na ressureição da carne, na vida eterna...’ muitas vezes não paramos para pensar no que essas palavras significam.
Porém o motivo para estudar, conhecer e meditar temas como a morte, o julgamento particular e universal, ressureição, e até mesmo sobre o céu, o inferno e o purgatório, não deve ser a mera curiosidade, pois isso não nos ajudaria em nada, pelo contrário, poderia nos prejudicar, causando confusão ou até um entendimento errado.
Mas podemos e devemos meditar esses temas, na perspectiva da fé, olhando para Nosso Senhor, e vendo que a partir Dele, tudo se realiza de forma perfeito, ordenado e justo.
Meditamos o mistério da sua segunda vinda e tudo que gira ao redor disso, para crescer no amor a Ele, desejando viver com Ele, também esse mistério.
A escatologia, é o estudo dos últimos acontecimentos onde toda criação encontra o seu fim, o que não significa a sua destruição, mas sim, a sua finalidade, que é antes de tudo, servir e adorar o seu criador.
A partir da vida de Cristo, podemos compreender todas as coisas, pois Nele, tudo foi revelado, e como Ele mesmo nos diz “Ora, a vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o único e verdadeiro e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).
Dessa forma, meditar a vida eterna, e todos os mistérios que a envolvem, é um olhar atendo a Jesus, a sua vida e a sua palavra. Acompanhemos:
CRIAÇÃO:
Toda a criação é obra da Santíssima Trindade (CIC 292), na qual o Pai criou todas as coisas no Filho, pela força do Espírito Santo. Como lemos no prólogo: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o verbo era Deus. No princípio, ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele, nada foi feito” (Jo 1,1-3).
Assim, toda criação encontra a sua finalidade, a sua razão de existir, no Filho, inclusive todos os seres humanos. É por isso que somente unidos a Ele, é que podemos ser plenamente felizes, pois só estaremos completos, quando vivermos voltamos a Ele.
PECADO ORIGINAL:
Porém toda a criação foi corrompida com o pecado, na qual o ser humano adquiriu uma dívida, transmitida de geração em geração, desde o nosso nascimento. Como rezamos no Salmo 50 “Eis que eu nasci na iniquidade, minha mãe concebeu-me no pecado”.
Assim, criou-se o grande dilema, resumido por São João da Cruz da seguinte forma: O ser humano tinha uma dívida, porém não conseguia pagar. Deus podia pagar essa dívida, porém não era Ele quem devida. A solução para esse problema, foi dada pelo próprio Deus.
PÁSCOA DE CRISTO:
Para resolver esse problema, eis que “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14). O Filho eterno do Pai, se encarnou no ventre da sempre Virgem Maria. “Se despojou, tomando a forma de escravo. Tornando-se semelhante aos homens e reconhecido em seu aspecto como homem, abaixou-se, tornando-se obediente até a morte, à morte sobre uma cruz” (Fl 2, 6-8).
Dessa forma, na Encarnação, Deus assume a nossa natureza, juntamente com a nossa dívida, e sendo Deus, pode pagá-la em nosso lugar. E a paga, com o seu santo Sacrifício na cruz, sacrifício perfeito, feito uma única vez para sempre.
A partir daqui, podemos adentrar alguns temas específicos, como a morte e a ressureição, na certeza de que, quando fomos batizados, a nossa vida foi vinculada a vida de Cristo, e assim a vida Dele, passa a ser também a nossa (CIC 790). No batismo, morremos com Cristo, para ressuscitar com Ele.
Em outras palavras, aquilo que aconteceu com Jesus, irá acontecer conosco. É dessa forma que podemos compreender o que acontece no momento da morte ou o que irá acontecer na ressureição, por exemplo. Contemplando a vida de Cristo, compreendemos a nossa vida.
MORTE:
“Ora, ele não é Deus de mortos, mas sim de vivos; todos, com efeito, vivem para ele” (Lc 20,38)
Certa vez Jesus foi questionado por alguns saduceus a respeito da morte e ressureição, na qual eles não acreditavam, e contando uma história exagerada, perguntam a Jesus como se realizara essas coisas (Lc 20, 27-38).
Em sua resposta, Nosso Senhor diz que ‘Deus não é Deus nos mortos, e sim dos vivos’ e usa a passagem na qual Deus se apresenta para Moisés, para justificar suas palavras.
Em tão ocasião, Deus se apresenta à Moises nos seguintes termos “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó” (Ex 3,6). Isso nos mostra que, mesmo que as portas da eternidade estivessem fechadas devido ao pecado, aqueles que morriam, não permaneciam mortos, inanimados ou num sono a espera de que os despertassem.
Deus é o Deus dos vivos, o que mostra que a morte não é o fim. Mas também nos mostra que com a morte, não estaremos em um sono a espera da Ressureição da carne. Isso também é entendido quando São Paulo diz “E como é fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem um julgamento” (Hb 9, 27).
Com essas palavras, além de percebemos que após a morte já temos o nosso julgamento, ouvimos do próprio Apóstolo, que ‘morremos uma única vez’, o que também justifica a nossa fé na ressureição, e a renuncia de qualquer pensamento que nos leve, por exemplo, a acreditar em reencarnação.
Mas para ficar mais claro, voltemos o nosso olhar a Jesus. Após expirar na cruz, podemos compreender o que a morte faz. Desde o pecado, a morte entrou no mundo como “salário do pecado” (Rm 6,23), e seu pior efeito, era a separação do homem e de Deus – efeito esse, que Jesus venceu com a sua morte. Além disso, a morte causa a divisão do ser humano, em seu corpo e sua alma.
Então após a sua morte, o corpo de Jesus foi levado à um sepulcro, enquanto a sua alma desceu a mansão dos mortos, para resgatar os justos que haviam morrido antes de sua vinda, e que aguardavam o Messias, o salvador, que é Cristo Nosso Senhor.
Então quando morremos, experimentamos essa triste divisão, que não foi feita por Deus. O nosso corpo é enterrado, voltando ao pó, e a nossa alma, que é imortal, recebida de Deus (Gn 2,7) se apresenta ao Pai, para o nosso julgamento particular.
JUÍZO PARTICULAR:
“E como é fato que os homens devem morrer uma só vez, depois do que vem um julgamento” (Hb 9,27)
No momento da nossa morte, a nossa alma se apresenta diante de Deus, o justo juiz, e assim, prestaremos contas de todas as nossas ações. Teremos consciência de todos os atos de nossa vida, do “acolhimento ou recusa da graça divina, manifestada em Cristo” CIC 1021.
Muitas pessoas acreditam que não existe juízo ou ainda, que não existe o inferno, pensando que Deus jamais poderia condenar alguém a perdição eterna. Porém, ao pensar assim, nos esquecemos que Deus nos ama verdadeiramente, e, portanto, nos criou livres, para escolhermos os nossos caminhos.
Porém, a liberdade, dom de Deus, é direciona somente ao bem, e aqueles que vivem mal a sua liberdade, pervertem esse dom de Deus, causando mal a si, e a outros.
“Cada homem recebe, em sua alma imortal, a retribuição eterna a partir do momento da morte, num juízo particular que coloca sua vida em relação à vida de Cristo, seja por meio de uma purificação, seja para entrar de imediato na felicidade do céu, seja para condenar-se de imediato para sempre” CIC 1022
Podemos concluir que na verdade, não é Deus em nos julga, mas sim nossas próprias ações. “Quem nele crê não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus” (Jo 3,18). Seremos julgados a parir do amor à Nosso Senhor que vivemos, ou que deixamos de viver.
Uma coisa importante, que meditar sobre a morte e sobre o julgamento que teremos, não deve causar em nós medo, pois para o Cristão, para aquele que vive a partir da sua fé “o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1, 21), pois afinal, a morte se torna apenas uma passagem, para enfim, contemplarmos a Deus.
Lembramos de Santa Teresinha do Menino Jesus, que dizia não ter medo do julgamento, pois era a amiga do Juiz, e assim, que vivamos a nossa fé, na alegria e na certeza de que Deus nos dá todas as graças para sermos fiéis a Ele, vivendo os seus planos, que nos levam a verdadeira felicidade, que é viver a eternidade com Ele.
Continua na parte 02....... (Céu, Inferno, Purgatório, Ressureição, Juízo universal...)
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