LECTIO DIVINA
Lendo as Sagradas Escrituras
Existe várias formas de se ler as Sagradas Escrituras – como um livro de história, como pesquisa geográfica, como estudo bíblico – mas sobre tudo, podemos e devemos ler a bíblia em espírito de oração, para encontrar nela aquilo que Deus tem a nos falar
A Lectio Divida – leitura divina ou leitura orante – é o método oracional de leitura das Sagradas Escrituras para encontrar nela a palavra de Deus, que é o próprio Cristo. Ela segue 4 passos: LEITURA, MEDITAÇÃO, ORAÇÃO, CONTEMPLAÇÃO;
Em resumo...
LEITURA: o que o texto diz;
MEDITAÇÃO: o que o texto fala para mim;
ORAÇÃO: o que o texto me leva a falar com Deus;
CONTEMPLAÇÃO: a ação de Deus na nossa vida, fruto dos passos da Lectio Divina;
LEITURA
O primeiro passo da Lectio Divina é a leitura, onde procuramos compreender o texto no seu sentido literal, ou seja, compreender o que o texto diz em si.
Sugestão:
- Ler o texto várias vezes, percebendo a ação de cada personagem;
- Quem está falando, e para quem está falando;
- Comparar o texto lido com outros textos que nos fala lembrar essa passagem;
- Grifar os pontos que mais chamou a sua atenção;
- Não aplicar todos esses pontos de uma vez, mas sim aqueles que lhe ajude na Lectio;
Exemplo...
Peguemos por exemplo a passagem que muitos conhecem como ‘O Filho Pródigo’ (Lc 15,11-32) onde vemos a parábola do Filho mais novo pedindo ao seu pai a sua parte da herança.
Ao lermos atentamente, percebemos que Jesus conta essa parábola para os Fariseus, que questionavam o porquê Jesus se aproximava dos publicanos e pecadores, enfatizando então a misericórdia do Pai, que acolheu o filho mais novo, mesmo depois de tudo o que ele fez.
Assim, percebemos que o personagem principal dessa passagem é o pai misericordioso e depois o filho mais velho que não aceitava o irmão mais novo, sendo assim a imagem daqueles fariseus que não aceitavam os seus irmãos publicanos e pecadores públicos.
Concluímos nesse exemplo, que o filho pródigo, é somente o terceiro em importância, podendo a parábola ser chamada de ‘Pai bondoso’.
E essa leitura que fizemos juntos, podemos fazer com toda as Sagradas Escrituras, sempre atento e a luz do Espírito Santo, para compreender o que Deus tem a nos dizer.
MEDITAÇÃO
Após a leitura do texto, vamos para o segundo passo, que é a meditação. Depois de compreender o que o texto diz em si, agora vamos ver o que o texto diz para mim, interiorizando o que foi lido e trazendo para o nosso coração.
É justamente aquilo que mais ficou forte para nós, o que nos tocou, o que veio de encontro ao nosso coração, ficando em evidência em todo o texto lido.
Sugestão:
- Escrever o que mais te tocou;
- Repetir muitas vezes aquela palavra que ficou mais forte, assumindo ela para você;
- Memorizando essa palavra e voltando-se a ele, ao longo do dia;
- E o mais importante: confrontar a sua vida com o texto lido;
Exemplo...
Peguemos como exemplo a leitura do texto de João 6,60-69.
Depois de Jesus dizer um longo e belo discurso se apresentando como o pão descido do céu, muitos discípulos pararam de segui-Lo dizendo ser muito duro as suas palavras...
Jesus se volta aos Apóstolos e pergunta se eles também não desejam ir
Pedro então responde: “A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68)
Essas palavras de Pedro sempre ressoaram de modo especial para mim... “A quem iremos... Só tu tens palavras de vida eterna...”
Procuro sempre me voltar para elas, seja quando estou longe ou perto de Deus, caindo em si e reconhecendo que somente Nele, em Nosso Senhor Jesus Cristo, encontramos palavras de vida eterna, que nos traz a verdadeira felicidade e nos da a razão da nossa existência.
A meditação faz com que eu faça das palavras de Pedro, as minhas, e delas inicio o diálogo com Deus, a oração, que é o próprio passo da Lectio.
E assim meditamos a leitura, sempre a luz do Espírito Santo que nos atrai e nos eleva a Deus.
ORAÇÃO
Depois de termos lido o texto, meditarmos o que ele diz vendo aquilo que mais nos tocou, partimos para a oração.
É justamente aquilo que o texto e a meditação me levam a falar para Deus – seja um agradecimento, seja um pedido, ação de graças...
Na oração podemos fazer da forma que nos sentimos melhor, e que nos leva a nos abrirmos para o diálogo com Deus.
Sugestão:
- Falar em voz alta o que o nosso coração experimentou; ou realizar a oração mental;
- Escrever a sua oração;
- Criar com a imaginação alguma imagem de Jesus e conversar com Ele;
- Usar uma imagem ou ícone para nos ajudar a ter uma direção e iniciar o diálogo;
- Lembrando: não aplicar tudo de uma vez, mas somente aquilo que nos ajuda;
Exemplo...
Meditando o encontro de Jesus no poço com a Samaritana (Jo 4,4-26)...
... aonde Jesus vai pouco a pouco se apresentando a ela, revelando ser o próprio Deus, portador da água da vida... ela diz a Jesus “Senhor, dá-me de beber dessa água” (Jo 4,15)
Podemos fazer das palavras da Samaritana, as nossas, e também disser a Jesus “Dá-me de beber dessa água”
‘Sim Jesus, eu hoje vos peço que me dê dessa água, reconhecendo quem Tu és, o Deus todo poderoso que se dignou se fazer igual a mim, para me fazer igual a Ti... e reconheço quem eu sou, e minha total dependência de Ti, do Teu amparo e da Tua graça. Por isso te peço Senhor Jesus, confiante de que nunca me deixará desamparado, ‘dá-me de beber dessa água’ e que assim eu possa ser fiel e constante na busca por Ti’.
“A oração é tratar intimamente com aquele que sabemos que nos ama, e estar muitas vezes conversando a sós com ele” S. Teresa D’Ávila
CONTEMPLAÇÃO
O último passo da Lectio Divina, é a contemplação. Porém, não devemos nos preocupar com esse passo, pois na verdade ele compete a Deus.
A contemplação é a ação de Deus em nossas vidas, fruto dos demais paços realizados na Lectio Divina – uma voa leitura dos textos das Sagradas Escrituras; a meditação desse texto trazendo para nossas vidas a palavra de Deus; a oração, o diálogo com Deus gerado a partir leitura e meditação.
A contemplação pode manifestar-se em nós de diversas maneiras, mas nem sempre será facilmente percebida.
Exemplos...
- Pode ser em nossas sensações externas (sentimentos, emoções...);
- Pode ser dar em nossas sensações internas (compreensão, contentamento...);
- Podemos experimentar uma profunda paz ou alegria;
- Ter uma maior compreensão de Deus ou de nós mesmos;
- Adquirir uma virtude, que antes achávamos difícil (paciência, fidelidade, honestidade, castidade...);
Na medida em que praticamos a Lectio Divida, a contemplação vai nos moldando, onde a Palavra de Deus vai nos transformando conforme a vida de Cristo, ou em outras palavras, nos transfigurando em Cristo.
Ainda que demore para percebermos essa mudança em nós, devemos ter a certeza de que Deus está transformando o nosso coração de pedra, em coração um novo coração de carne, mas transformando de dentro para fora, pouco a pouco, na medida da abertura que vamos dando a Ele.
E pouco a pouco começamos a testemunhar o que lemos, meditamos e oramos, em nossa própria vida. Eis aí a contemplação.
Façamos como Santa Teresa nos ensina, um trato de amizade com Jesus, e busquemos aquele que nos espera, todos os dias.
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