SACRAMENTO DA UNÇÃO DOS ENFERMOS
1. DOENÇA X PECADO
Com o seu sacrifício na cruz, Jesus venceu o demônio, o pecado e a morte. Porém, como podemos perceber, enquanto vivemos nessa vida, ainda sofremos os efeitos do pecado, a inclinação para aquilo que é mal, além dos problemas do mundo, como as doenças, as guerras e a divisão.
No Antigo Testamento, era comum associar todo o mal que a pessoa sofria, ao pecado cometido por ele, ou até mesmo por seus pais.
É o que vemos na pergunta dos discípulos a Jesus, quando encontram um cego de nascença: “Rabi, quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9,2).
Podemos ainda lembrar da história de Jó, homem temente a Deus, mas que teve a sua fé provada, ao perder tudo que tinha – família, amigos, bens, saúde.
As pessoas procuravam explicar o ocorrido, dizendo que Jó deveria ter feito algo muito ruim, para receber tal punição de Deus. Outros ainda diziam a ele para abandonar a sua fé, que aparentemente, não lhe dava nada de bom.
A resposta de Jó, demostra o tamanho de sua fé: “O Senhor o deu, o Senhor o tirou, bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1,21) e ainda “Se recebemos de Deus os bens, não deveríamos receber também os males?” (Jó 2,10).
Assim, mesmo em meio a dor e sofrimento, permaneceu fiel a Deus, e o mal temporário que ele passou, não pode lhe fazer um mal eterno.
Voltemos agora a resposta de Jesus, quando pergunta sobre o cego de nascença: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus” (Jo 9,3).
Isso nos mostra que a doença, a dor e o sofrimento, não são a princípio, consequências do pecado, mas males que Deus permite que passemos, para que Deus, saiamos com a fé fortalecida, a exemplo de Jó.
2. NOVO SENTIDO AO SOFRIMENTO
Os momentos de dor e sofrimentos sempre se apresentam como um desafio na vida de qualquer pessoa.
São nesses momentos que experimentamos o quanto somos criaturas fracas e dependentes de Deus, e por vezes, dependente até de outras pessoas para nos auxiliar.
É conhecendo o limite humano, que somos direcionados a escolher entre dois caminhos.
Podemos nos afundar em uma profunda angústia, nos isolando e se fechando em nós mesmo, chegando até ao desespero e à revolta contra Deus. Seguindo esse caminho, perdemos a esperança e o sentido da vida, restando apenas a lamentação pelas penas sofridas.
Mas existe um outro caminho, que é justamente o contrário. Podemos enfrentar a dor e o sofrimento, com a certeza de que, por pior que ela seja, ela não detém a ultima palavra.
Ao enxergar dessa forma, passamos por isso de uma forma madura, sabendo até reconhecer em nossas vidas, aquilo que é essencial. E o que temos de mais essencial, é o nosso relacionamento com Deus.
"Agora regozijo-me nos meus sofrimentos por vós, e completo o que falta às tribulações de Cristo em minha carne pelo seu Corpo, que é a Igreja" (Col 1,24)
Jesus com o seu sacrifício deu um novo sentido ao sofrimento, onde na cruz, tomou sobre si todo o peso do mal, tirando-lhe a sua força – CIC 1505. Dessa forma, todo sofrimento que enfrentamos, se torna um caminho para nos unir a Jesus e o seu sacrifício na cruz.
Essa união do nosso sofrimento, com o sofrimento que Jesus enfrentou, é dita por São Paulo dessa forma: “completo o que falta às tribulações de Cristo em minha carne”, o que nos faz olhar para o sofrimento com outros olhos.
Quando enfrentamos todo momento de dor, sem reclamar e murmurar, sem se vitimar ou sem querer achar culpados ou se sentir injustiçado, mas aceitamos passar por aqui, como um caminho de purificação até mesmo dos nossos pecados cometidos, nos santificamos a dor e o sofrimento, se tornando um caminho mais rápido para chegar a Deus.
Para isso devemos sempre nos lembrar que “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8,28), e que da mesma forma que não é desejo de Deus que nós passemos pelo sofrimento, Ele sempre estará ao nosso lado, não permitindo que soframos mais do que possamos suportar.
3. SACRAMENTO DA UNÇÃO DOS ENFERMOS
Ao retornar para o Pai, Jesus deixa a sua Igreja e a confia a seus Apóstolos e sucessores. Transmite o seu poder e autoridade para agirem em seu nome, como Ele mesmo diz “Em meu nome expulsarão demônios, falarão em novas línguas, pegarão em serpentes, e se beberem algum veneno mortífero, nada sofrerão; imporão as mãos sobre os enfermos, e estes ficarão curados” (Mc 16, 17-18).
Dessa forma chegamos ao Sacramento da Unção dos Enfermos ou Extrema Unção. Esse Sacramento é direcionado justamente aqueles que estão em perigo de morte, se aproximando da sua Páscoa, por motivo de doença, velhice, debilidade física ou irão passar por alguma cirurgia de risco.
Em todos esses casos, aquele que recebe o Sacramento, é convidado a entregar a sua vida na mão de Deus, enfrentando tudo, com acolhimento a Sua santa vontade.
Pela sagrada Unção dos Enfermos e pela oração dos presbíteros, a Igreja toda entrega os doentes aos cuidados do Senhor, sofredor e glorificado, para que os alivie e salve. Exorta-os a que livremente se associem à paixão e à morte de Cristo e contribuam para o bem do povo de Deus – CIC 1499
O Sacramento é administrado pelo ministro ordenado, que unge as mãos e afronte daquele que irá receber com o santo óleo, dizendo: “Por esta santa unção e por sua puríssima misericórdia, o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto de teus pecados, ele te salve e, em sua bondade, alivie teus sofrimentos” – CIC 1513.
O ministro reza pela saúde e cura do enfermo, seja ela física, ou ao consolo e conforto no momento da morte, rezando ainda por sua salvação.
O mais importante, é sempre buscar e se conformar com a vontade de Deus, que sempre sabe o que é melhor para cada um de nós.
Juntamente a esse Sacramento, podem ser aplicados o Sacramento da Penitência e o enfermo ainda pode receber a Eucaristia. Aqueles que estão à beira da morte, recebem o Viático – sua última Eucaristia – esperando assim, o momento de sua passagem para a vida eterna.
4. EFEITOS DO SACRAMENTO
"Sofre alguém dentre vos um contratempo? Recorra a oração. Está alguém alegre? Cante. Alguém dentre vós está doente? Manda chamar os presbíteros da Igreja para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor.
A oração da fé salvará o doente e o Senhor o porá de pé; e se tiver cometido pecados, estes lhe serão perdoados. Confessai, pois, uns aos outros, vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais curados." (Tg 5, 13-16)
Conforme o catecismo nos apresenta, esses são os efeitos desse Sacramento (CIC 1520 à 1523):
Reconforto:
O principal dom deste sacramento é o de receber uma graça de reconforto, de paz e de coragem para vencer as dificuldades próprias do estado de enfermidade, seja ela grave ou a fragilidade da velhice;
Confiança:
Além disso, renova a confiança e a fé em Deus e o fortalece contra as tentações do maligno, isto é, contra as tentações de desânimo e da angústia diante da morte, para não desconfiar da infinita misericórdia de Deus.
Cura:
O Sacramento da Unção dos enfermos leva o enfermo à cura da alma, mas também à do corpo, se for está a vontade de Deus.
Perdão:
Associando ao Sacramento da Penitência, leva ao perdão dos pecados cometidos, nos voltando a amizade com Deus;
União:
O enfermo recebe a força e dom de unir-se, mais intimamente, à paixão de Cristo: de certa forma ele é consagrado para produzir fruto pela configuração à paixão redentora do Salvador;
Preparação:
Nos prepara para a nossa última passagem, completando a nossa conformação com a morte e ressureição de Cristo, como o Batismo começou a fazê-lo;
É dessa forma que o sofrimento, sequela do pecado original, recebe novo sentido: torna-se participação na obra de salvação de Jesus - CIC 1521.
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