SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
1. A UNIÃO DO HOMEM E DA MULHER
Todo Sacramento é a vida de Jesus que chega a nós, para nos tornar um novo Cristo, nos ensinando a agir como filhos de Deus.
E assim o é nos Sacramentos de missão, como veremos com o Matrimônio.
“Alguns fariseus se aproximaram dele, querendo pô-lo à prova. E perguntaram: É lícito repudiar a própria mulher por qualquer motivo? Ele respondeu: Não lestes que desde o princípio o Criador os fez homem e mulher? E que disse: Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher e os dois serão uma só carne? De modo que já não são dois, mas uma só carne. Portanto o que Deus uniu, o homem não deve separar. Eles, porém, objetivaram: Por que, então, ordenou Moisés que se desse carta de divórcio quando repudiasse? Ele disse: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres, mas no princípio não era assim” (Mt 19,1-8)
Quando questionado a respeito da união do homem e da mulher e referente ao divórcio liberado em alguns casos por Moisés, Jesus responde dizendo que no princípio não era assim, nos convidando a voltarmos para o início, para compreendermos essa união.
E voltamos justamente para a criação do homem e da mulher:
“O Senhor disse: Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda. Então o Senhor fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou uma de suas costelas e fez crescer carne em seu lugar. Depois, da costela que tirara do homem, o Senhor modelou uma mulher e a trouxe ao homem.
Então o homem exclamou: Esta sim, é osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do homem!
Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (Gn 2,18.21-24)
Vemos que desde o princípio, é vontade de Deus a união do homem e da mulher, onde criando-nos como complemento um ao outro, Ele mesmo já nos deu a atração mútua, na qual podemos concluir que Deus mesmo é o autor do matrimônio.
Assim como Deus que é amor (1 Jo 4,8), e nos criou para o amor, a união do homem e da mulher se torna uma imagem do amor absoluto e perfeito que é Deus.
A condição para que exista o amor, é que tenha pelo menos duas pessoas: o amante e o amado.
E é exatamente o que vemos no mistério da Santíssima Trindade, onde o Pai ama o Filho, o Filho ama o Pai, e são sondados pelo Espírito Santo, gerado por esse amor, assim como do amor entre o homem e a mulher, é gerado o fruto desse amor que é os filhos.
Essa união é tão forte, que como é dito, se torna ‘uma só carne’, nos indicando o objetivo dessa união: um auxiliar o outro, para chegar à união com Deus.
Assim, o matrimônio não é o objetivo final, e sim um meio para que, um ajudando o outro, possam ambos chegar à eternidade, ao Amor maior que o próprio Deus.
2. O PECADO ORIGINAL E A REDENÇÃO DE NOSSO SENHOR
Com o pecado original, a união que deveria ser perfeita entre o homem e a mulher, é afetada, como nos diz o catecismo:
“Sua união é sempre ameaçada pela discórdia, pelo espírito de denominação, pela infidelidade, pelo ciúme e por conflitos que podem chegar ao ódio e à ruptura” CIC 1606.
E tudo isso é consequência do pecado, onde a “sua atração mútua, dom do próprio Criador, transforma-se em relação de dominação e de cobiça” CIC 1607.
Para vencermos esse mal, precisamos da ajuda da graça de Deus, que nunca nos recusa, e que de forma especial, recebemos no Sacramento do Matrimônio.
É por meio desse Sacramento que Deus nos ajuda a “vencer a centralização em si mesmo, o egoísmo, a buscar do próprio prazer, e a se abrir ao outro, à ajuda mútua, ao dom de si” CIC 1609.
A força para vencer todos esses efeitos do pecado, vem justamente do Sacrifício de Jesus na cruz, que vencendo o pecado, nos dá a força, em cada Sacramento, de também o vencermos, sempre amparados por Sua graça.
Dessa forma, Jesus eleva a união do homem e a mulher, que sempre foi deseja por Deus, como vimos no livro do Gênesis, a Sacramento, santificando a união dos esposos.
São Paulo Apóstolo em suas cartas, ao falar sobre a dignidade e grandeza do matrimônio, compara a união do homem e da mulher como imagem do amor de Deus por nós, expressa por Cristo e a Igreja:
“Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo.
As mulheres o sejam a seus maridos, como ao Senhor, porque o homem é a cabeça da mulher, com Cristo é cabeça da Igreja e o salvador do Corpo.
Como a Igreja está sujeita a Cristo, estejam as mulheres em tudo sujeitas aos maridos.
E vós, maridos, amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas sana e irrepreensível.
Assim também os maridos devem amar suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama sua mulher ama-se a si mesmo, pois ninguém jamais quis mal à sua própria carne, antes alimenta-a e dela cuida, como também faz Cristo com a Igreja, porque somos membros do seu Corpo.
Por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e se ligará à sua mulher, e serão ambos uma só carne.
É grande este mistério: refiro-me à relação entre Cristo e sua Igreja. Em resumo, cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo e a mulher respeite o seu marido” (Ef 5,21-32)
No Matrimônio, não é simplesmente uma benção que Deus dá ao casal, mas sim, santifica o amor entre eles, para que sejam espelho e imagem do amor de Cristo pela sua Igreja.
Essa é a missão daqueles que são chamados a esse Sacramento, ser sinal do amor de Deus, demostrado em sua família, como testemunha desse amor.
3. SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO
Alguns sinais marcam esse Sacramento sendo eles:
Indissolubilidade:
Como Nosso Senhor Jesus nos disse “O que Deus uniu, o homem não deve separar”, mostrando que o Sacramento do Matrimônio só se desfaz com a morte.
“O amor dos esposos exige, por sua própria natureza, a unidade e a indissolubilidade da comunidade de pessoas que engloba toda a sua vida: ‘De modo que eles já não são dois, mas uma só carne’ (Mt 19,6)” CIC 1644.
A nulidade de casamento dada pela Igreja para alguns casos, não anula o Sacramento, apenas atesta que nunca ouve de fato o Sacramento do Matrimônio desses casos.
Fidelidade:
Assim como o casamento deve ser uma imagem do amor de Deus, essa imagem deve ser marcada pela fidelidade, assim como Deus é sempre fiel a nós.
Essa é uma exigência do amor esponsal, a fidelidade inviolável, caminho pelo qual os esposos tornam-se uma só carne, e o amor definitivo.
“Deus nos ama com um amor definitivo e irrevogável, que os esposos participam deste amor, que ele os conduz e mantém e que, por meio de sua fidelidade, podem ser testemunhas do amor fiel de Deus” CIC 1648
Abertura a vida:
Como promessa no altar, no momento de receber o Sacramento, os cônjuges precisam estar abertos a vida, a esse mais precioso dom que Deus concede, e que nos tornam colaboradores da criação de Deus.
Por ser um dom, podemos recebe-lo ou não, por isso o que marca o Sacramento, é a abertura a vontade de Deus.
“Pela sua própria natureza, a instituição matrimonial e o amor conjugal estão ordenados á procriação e a educação dos filhos, que constituem o ponto alto da sua missão e a sua coroa” CIC 1652
Escolha mútua:
Não existe destino, logo, um homem não está destinado a casar-se com determinada mulher, ou vice e versa.
O que existe é escolha mútua, onde na nossa liberdade, Deus permite que escolhamos, caso sejamos atraídos à essa vocação, aquela ou aquele que será a nossa companheira até a morte.
Castidade:
Todos somos chamados a castidade, vivendo-a conforme o nosso estado, e o mesmo se dá aos esposos.
A castidade conjugal consiste em manter a fidelidade um ao outro, como testemunho da fidelidade de Cristo à sua Igreja, que pelo Matrimônio os esposos participam desse mistério. CIC 2365
Além disso, a castidade conjugal auxilia moralmente as ações dos esposos quanto a abertura a vida.
Mesmo nos casos de, por motivos justos, os esposos optarem por espaçarem o nascimento dos filhos, não devem recorrer a métodos que não sejam naturais, como o uso de preservativos, ainda mais os que são abortivos.
A castidade nos leva, a nesses momentos, a continência, conservando assim o amor mútuo e verdadeiro e sua ordenação para a altíssima para a paternidade e maternidade. CIC 2368-2370
4. O SACRAMENTO E OS SEUS EFEITOS
“Do Matrimônio válido origina-se, entre os cônjuges, um vínculo que, por sua natureza, é perpétuo e exclusivo. Além disso, no Matrimônio cristão, os cônjuges são robustecidos e como que consagrados por um sacramento especial aos deveres e à dignidade de seu estado” CIC 1638
O principal efeito do Sacramento é união do homem e da mulher, o que ocorre de forma clara no ato conjugal, que tem como segundo efeito a abertura a vida.
“A tarefa fundamental do Matrimônio e da família é estar a serviço da vida” CIC 1653.
A graça de Deus aperfeiçoa o amor dos cônjuges e fortalece a unidade entre eles.
Sendo Nosso Senhor a origem de todo Sacramento, Ele mesmo é a fonte da graça do Matrimônio, permanecendo com o casal e concedendo-lhes força de segui-lo levando a sua cruz, se levantando em cada queda, perdoando-se mutualmente, carregando o fardo um dos outros, submetendo-se ‘uns aos outros, no temor de Cristo’ (Efs 5,21) e amando com um amor sobrenatural, terno e fecundo CIC 1642.
Celebração do Matrimônio:
O Sacramento do Matrimônio é um ato litúrgico, e por isso, deve ser realizado na Igreja.
Porém, quem realiza o Sacramento são os esposos, como nos diz o catecismo: São os esposos que, como ministros da graça de Cristo, se conferem mutualmente o sacramento do Matrimônio, expressando diante da Igreja seu consentimento CIC 1623.
Dessa forma, o padre ou o diácono que conduz a liturgia, é apenas a testemunha do que está ocorrendo, entre o casal e Deus, porém se faz necessária a sua benção para a validade do Sacramento.
O sinal sensível e visível da graça de Deus nesse Sacramento, é a aliança, que nos recorda a aliança que Deus fez com o seu povo.
Dessa forma, a aliança é sempre a lembrando do compromisso feito diante de Deus, um para com o outro, de se manterem fiéis ao seu cônjuge, e a Deus por meio da sua vocação.
Mas o selo mesmo dessa aliança, é o Espírito Santo, que nos ajuda a cumprirmos essa promessa.
Ainda para a validade do Sacramento, é necessário que o ‘sim’ dado um ao outro, seja um ato livre, da vontade de ambos.
Não pode ser forçado ou coagido a se casarem, mas sim, a escolha mútua de um pelo outro. A isso chamamos de consentimento.
O celebrante da liturgia, acolhe o consentimento dos esposos em nome da Igreja, e dá a benção, repetindo as mesmas palavras de Nosso Senhor “O que Deus uniu, o homem não separe!” (Mc 10,9).
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