DONS DO ESPÍRITO SANTO E AS VIRTUDES - TEMOR DE DEUS / TEMPERANÇA
‘O dom do temor de Deus nos faz participar da reverência amorosa e adorante que Jesus Cristo tinha na sua vida terrena em relação ao Pai’
(Livro Pentecostes e a Igreja, Cesar Augusto)
1. DOM DO ESPÍRITO SANTO
O dom do temor de Deus é primeiro dom que age em nossas almas, para que todos os demais dons também possam operar, pois “o princípio da Sabedoria é o temor de Deus” (Pr 9,10). Esse dom faz com que nós tenhamos um profundo temor e reverência para com Deus, mas não devemos confundir temor com medo.
O temor, faz com que reconheçamos a grandeza de Deus, com todo o seu poder e glória, mas também com a sua misericórdia e bondade para conosco, e assim, passamos a ter medo de ofende-Lo, medo de não corresponder ao Seu amor por nós. A consequência desse medo de ofender a Deus, é o horror ao pecado, aquilo que ofende a Deus.
Lembremos que os Dons do Espírito Santo, vem trabalhar em nosso ser, para nos fazer um novo Cristo. O dom do Temor de Deus, nos faz participar do respeito amoroso que Jesus tem pelo Pai, como vemos ao longo de todo o Evangelho.
“Meus amigos, eu vos digo: não tenhais medo dos que matam o corpo e depois disso nada mais podem fazer. Mostrarei a quem deveis temer: temei Aquele que depois de matar tem o poder de lançar na geena; sim, eu vos digo, a Este temei” (Lc 12,4-5)
Jesus nos mostra que somente a Deus devemos temer, e a partir de então, não ter medo de ninguém na terra. Vemos um grande exemplo desse testemunho, quando Pedro é preso após pregar o Evangelho, e quando fora coagido a não mais falar de Jesus, eis que ele diz “Jugai se é justo, aos olhos de Deus, obedecer mais a vós do que a Deus. Pois não podemos, nós, deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.” (At 4,18-20).
Aprendemos que o temor a Deus, deve fazer com que busquemos cumprir a vontade de Deus, e que essa vontade, está a cima que qualquer lei ou autoridade humana.
“O anjo do Senhor acampa ao redor dos que o temem, e os liberta” (Sl 34).
COMO CULTIVAR ESSE DOM:
Alimentamos e cultivamos esse dom na oração, principalmente quando adoramos a Deus, agradecendo e louvando por todas as suas ações no mundo e especialmente em nossas vidas. O temor cresce em nós, quando também vamos criando uma repulsa pelo pecado, e evitamos de nos colocar em situações que podemos cair em pecado. “Feliz o homem que teme o Senhor e se compraz em seus mandamentos” (Sl 112).
2. VIRTUDE: TEMPERANÇA E ESPERANÇA
Os dons de Deus são gratuitos, e recebemos todos quando recebemos o Sacramento do Batismo.
Mas o Espírito Santo precisa da nossa liberdade para poder agir em nós, e dessa forma, os seus dons nos transformarem em Nosso Senhor. O que podemos fazer para ajudar esse processo, é a prática das virtudes.
A virtude que nos ajuda a nos abrirmos para o dom do Temor de Deus, é a TEMPERANÇA. Essa é a primeira das virtudes cardeais, que nos ajudam a alcançar as outras, assim como o Dom do Temor de Deus é o primeiro dom, que nos leva a viver os demais.
A temperança é a virtude que ‘modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados’ CIC 1809. Ou seja, faz que com que busquemos o prazer apenas naquilo que é lícito e bom para si e para o próximo, e até nesses casos, buscar de forma moderada, para que não se torne pecado.
Por exemplo, a comida é um bem lícito, que nos dá prazer. Porém ao comer além do necessário, agredimos o nosso próprio corpo, e caímos no pecado da gula.
Fomos criados a imagem e semelhança de Deus, com um corpo e uma alma. O nosso corpo deve responder a nossa alma, e ela responde a Deus.
Porém, com o pecado, ouve uma inversão, onde constantemente tentamos fazer o contrário: submeter a nossa alma ao nosso corpo, e optando pelo pecado, vamos nos esquecendo de Deus.
A virtude da temperança, ajuda a nos corrigirmos, nos ordenando, para assim, nos voltarmos a Deus novamente, pelo dom do Temor de Deus.
- Intemperança: O contrário da temperança, é a intemperança, que é quando buscamos desordenadamente o prazer, de modo egoísta, ferindo a nós mesmos e muitas vezes, até o próximo. Nos faz também amar mais a nós mesmo, do que a Deus, colocando como sentido da vida, a obtenção do prazer, muitas vezes, a qualquer custo. Transforma aquilo que existe para servir à vida – como o alimento e a bebida – em um instrumento do mal, que leva a perder a saúde física e psíquica;
Podemos cair na tentação de achar que a virtude da temperança nos impõe uma série de limitações e proibições quanto ao que podemos ou não fazer.
Principalmente no mundo em que vivemos, ‘consumista’ e ‘hedonista’, dominada pelo culto ao prazer. Mas na verdade, essa virtude nos ajuda a viver justamente na liberdade de Filhos de Deus, na qual “tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (1 Cor 6,12).
Além disso, a temperança faz com que não nos apeguemos aos bens deste mundo, o que já nos liga com outra virtude que nos ajude nesse caminho: Virtude da ESPERANÇA.
Essa virtude nos faz tirar os olhos de nós mesmos e do mundo onde vivemos, para olhar para o céu, para a eternidade, para o nosso fim último.
Nos lembra que a nossa meta, para qual caminhamos todos os dias, é a eternidade, e assim sendo, desejando o céu, enfrentamos qualquer desafio aqui nesse mundo.
“Nós nos gloriamos também nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a perseverança, a perseverança a virtude comprovada, a virtude comprovada a esperança. E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,3-5)
Algumas outras virtudes nos ajudam quando ao Dom do Temor de Deus, e a vencer a intemperança e a desesperança:
- Castidade:
Modera os nossos impulsos sexuais para que sejam vivenciados de acordo do nosso estado de vida.
O sexo é a manifestação santa de amor entre os esposos e a colaboração com Deus criador; O contrário da castidade é a luxúria, que perverte essa verdade em uma busca pelo gozo, prazer sem responsabilidade, ou como crime no caso do adultério ou traição.
A castidade não reprime ou impede o nosso instinto sexual, mas direciona para o local certo, que é o matrimônio, onde se realiza plenamente;
- Humildade:
Como dizia Santa Tereza ‘a humildade é a verdade’. É a verdade sobre quem é Deus, sobre quem nós somos, sobre a nossa vocação, aquilo que somos chamados a ser.
O contrário da humildade, é a soberba, que é a falsa ideia de que nos bastamos, de que não precisamos de ninguém e nem mesmo de Deus.
A humildade gera em nós uma desconfiança sadia de nós mesmo, nos levando a confiar e buscar a Deus, depositando Nele, e não em nós, a força que necessitamos para realizar tudo o que precisamos fazer.
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